domingo, 7 de fevereiro de 2010

Adriana Birolli desponta como vilã "humana" em "Viver a Vida"

Isabel entra no quarto da irmã, Luciana, que ficou tetraplégica após um acidente, e dispara, debochada: "Vou bater perna por aí!"

O comentário irônico --e impiedoso-- é um exemplo do tipo de maldade de que é capaz a personagem vivida por Adriana Birolli, 23, na novela "Viver a Vida". "Ela não é bem uma vilã; ela fala a verdade, provoca, mas não joga ninguém pela escada", diz a atriz.

Esse traço de maldade, uma vilania cheia de sarcasmo e incorreção, é exatamente o que define as antagonistas de Manoel Carlos, autor da trama.

Nilson Xavier, que escreveu o "Almanaque da Telenovela Brasileira", lembra que as vilãs de Maneco "não fazem maldades por fazer". "Não há o maniqueísmo extremo, elas nunca são sociopatas ou psicopatas", afirma o especialista.

Maneco confirma a análise: "Nunca faço vilã de opereta, mulheres terríveis, pois não acredito que existam".
A malvada da vez, Isabel, é movida por ciúmes e inveja da irmã, mas não quer vê-la morrer e até já disse que torce por sua recuperação. Bem diferente, por exemplo, de Yvone (Letícia Sabatella), que seduziu, roubou e mentiu em "Caminho das Índias", de Glória Perez.

O autor defende que suas vilãs são "humanizadas". As personagens teriam as virtudes e os defeitos de qualquer mortal.

"Não existem muitas pessoas como a Isabel, mas eu conheço algumas. Você não conhece?", questiona a atriz.

Para Xavier, a característica é uma exclusividade das tramas de Manoel Carlos. Mesmo em tramas realistas, os demais autores costumam carregar nas maldades das vilãs, que muitas vezes superam as mocinhas em empatia com o público.

Quem não se lembra da Nazaré Tedesco (Renata Sorrah) de "Senhora do Destino"?

"É uma espécie de catarse", diz Xavier. "O telespectador pode não aceitar aquelas atitudes, mas não consegue ficar imune à figura da vilã, sem que ela lhe desperte algum interesse, ou algum desejo contido."

Mimada

Regiane Alves, 31, é veterana em vilãs "manequianas": já viveu três. A pior delas --ou a mais lembrada-- foi Dóris, de "Mulheres Apaixonadas", aquela que maltratava os avós.

"Nem eu nem o Maneco esperávamos tanta repercussão. Já se foram sete anos e ainda falam nela", diz Regiane, que atualmente está no ar na novela das 19h, "Tempos Modernos".

Assim como Adriana Birolli, ela não considera sua personagem uma vilã. "Acho a Dóris uma adolescente mimada, sem controle, egoísta, sem pudor."

Manoel Carlos elogia as duas atrizes e diz ter "um carinho especial" pelas intérpretes de suas vilãs. Mas cita três preferidas, todas vividas por veteranas. São elas: Susana Vieira (a Branca, de "Por Amor"), Marieta Severo (a Alma, de "Laços de Família") e Lília Cabral (a Marta, de "Páginas da Vida") --a última faz a Tereza, mãe de Isabel, em "Viver a Vida".

E, se vilãs pérfidas e cruéis não cabem nas tramas de Maneco, a mesma fórmula se aplica às mocinhas inocentes. As Helenas, segundo Maneco, também são "demasiadamente humanas", ou seja, "mentem, fingem e traem". Por isso, diz o autor, não há espaço para uma Helena "do mal". "Elas serão sempre as protagonistas", diz.

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